Em todos os seus anos na Fórmula 1, um ambiente em que amizade é rara, um dos melhores amigos de Ayrton Senna foi Gerhard Berger, que acompanhou o brasileiro na McLaren por três anos consecutivos (1990, 1991 e 1992). Entre todos os companheiros de equipe de Senna, o austríaco foi o que teve melhor relação com o tricampeão mundial de F1.

A boa amizade de ambos inclusive era vista no paddock da F1 com diversas brincadeiras, como jogar bolo na cara durante uma festa de aniversário. Ou até mesmo algumas mais “pesadas”, como o dia em que Berger jogou a maleta de Senna para fora de um helicóptero, como já contamos aqui no próprio site (link).

E foi há exatos 29 anos, no dia 28 de abril de 1991, que Ayrton Senna e Gerhard Berger conquistavam a primeira dobradinha juntos pela McLaren, no GP de San Marino, em Ímola.

Relembre as dobradinhas dos pilotos da McLaren naquele ano:

GP de San Marino de 1991

No dia anterior à corrida, Senna conquistou a sexta pole position consecutiva e começou o final de semana com o pé direito, enquanto Berger largaria apenas na quinta colocação. Com muita chuva no domingo, Riccardo Patrese ultrapassou o brasileiro logo no início da prova e a disputa prometia ser boa, já que os dois eram os dois últimos vencedores dos GPs no Autódromo Enzo e Dino Ferrari.

Quando a pista começou a secar e Senna passou a chegar mais perto da Williams de Patrese, o italiano foi aos boxes com problemas no motor e o brasileiro dominou o restante da corrida, garantindo sua terceira vitória em três GPs da temporada de 1991.

Com todas as confusões no início da prova por conta da chuva, Berger foi o segundo colocado naquele dia e a festa da McLaren estava feita com a primeira dobradinha do ano.

GP da Bélgica de 1991

O Grande Prêmio de Spa-Francorchamps, na Bélgica, em 1991 foi marcante para Ayrton Senna, que conquistou sua quinta e última vitória em seu circuito preferido. Além disso, foi o quarto triunfo consecutivo do brasileiro em Spa (1988, 1989, 1990 e 1991), igualando Jim Clark, que venceu no traçado entre os anos de 1962 e 1965. O primeiro triunfo do brasileiro havia acontecido em 1985 com a Lotus.

A quinta vitória de Senna em Spa foi uma das mais difíceis, senão a mais complicada para o brasileiro em território belga. Ayrton manteve a ponta durante as primeiras 14 voltas, mas perdeu a liderança no pit stop para a Williams de Nigel Mansell, seu principal adversário na disputa do título mundial daquele ano. Antes disso, Alain Prost já havia abandonado por problemas no motor da Ferrari.

Senna aproveitou o problema elétrico de Mansell para recuperar uma posição, mas ainda estava atrás de Jean Alesi, líder a partir da volta 22 com a Ferrari. Senna foi à caça do francês, mas tinha problemas de câmbio. As marchas do brasileiro não entravam da maneira correta e ele quase precisou parar sua McLaren.

O que ajudou Senna foi que Alesi sofreu com o motor Ferrari, assim como Prost, e perdeu a corrida que parecia estar em suas mãos. Senna levou sua McLaren para a vitória com muitas dificuldades e o segundo lugar ficou com seu companheiro Gerhard Berger. O austríaco conseguiu a vice-liderança da prova faltando três voltas, quando a ótima corrida de recuperação de Andrea De Cesaris chegou ao fim por problemas no motor Ford da Jordan.

GP do Japão de 1991

Pelo quinto ano consecutivo, o título da Fórmula 1 seria decidido em Suzuka e o rival da vez para Senna era o inglês Nigel Mansell. O brasileiro chegou ao Japão com uma diferença de 16 pontos para o seu rival. Podia, assim, até chegar logo atrás do inglês para ganhar o tricampeonato mundial de Fórmula 1, restando ainda o GP da Austrália no calendário.

No entanto, o título já veio na nona volta: enquanto Gerhard Berger disparava em primeiro, Senna segurava Mansell na disputa pela segunda colocação. Foi então que o Leão tentou fazer a ultrapassagem naquela volta, mas acabou exagerando, passou reto e ficou preso à caixa de brita. Com isso, o inglês deu adeus às suas chances de conquista.

Na sequência, Ayrton voltou a acelerar forte e ultrapassou Berger, que liderava a corrida com a outra McLaren. Foi então que o brasileiro deixou o amigo ficar com a vitória nos metros finais, como o próprio Ayrton contou na época.

“Naquele instante pensei: agora sim, posso correr do jeito que gosto, com pé no fundo e para vencer. Eu só pensava no título. Aquela era a oportunidade que tanto esperei para me divertir. Não há melhor maneira de conquistar um título mundial do que esta: vencendo o Grande Prêmio como fiz em 1988, no Japão. E eu estava prestes a fazer isso quando o (Ron) Dennis voltou a me chamar pelo rádio. Pedi que ele repetisse a mensagem e, mais uma vez, ouvi mal. Resolvi, então, tirar o pé e deixei o Berger passar”, disse Senna, que finalizaria assim sua trajetória daquele ano com o terceiro título mundial.