Após conquistar sua primeira vitória na Fórmula 1 sob um verdadeiro dilúvio em Portugal, no segundo GP da temporada 1985, Ayrton Senna seguia mostrando velocidade naquele que era seu segundo ano na principal categoria do automobilismo mundial. Tanto que, no Estoril, emendou uma impressionante sequência de quatro pole positions (Portugal, Ímola, Mônaco e Detroit) em cinco corridas. Mas havia um porém: o carro da Lotus acabava deixando o piloto na mão em várias oportunidades, impedindo assim que a nítida velocidade nos treinos se convertesse em vitórias no domingo.
O décimo GP de 1985 aconteceria na Áustria, casa do tricampeão Niki Lauda, que aproveitou o momento para anunciar sua aposentadoria definitiva da categoria ao final da temporada (ele já havia saído e voltado da Fórmula 1 anos antes). Com Alain Prost como companheiro de equipe na McLaren, o austríaco já não conseguia acompanhar os resultados do francês, que, com 30 anos, conquistaria o seu primeiro título mundial justamente ao final daquele ano.
No final dos treinos de classificação, Ayrton Senna desabafou aos jornalistas brasileiros presentes na Áustria:
“Paguei todos os meu pecados nesta classificação”
Ele se referia à dificuldade de acertar o carro para a veloz pista de Zeltweg, onde não foi além do 14º lugar no grid. A pole position ficou com Alain Prost, 1min25s490. O francês era o vice-líder do campeonato, apenas cinco pontos a menos que Michele Alboreto, da Ferrari. O italiano largou em nono lugar, dando uma boa oportunidade para Prost encostar na tabela. Ao lado do francês, Nigel Mansell completava a primeira fila. A segunda tinha Niki Lauda e Keke Rosberg.
Ainda restavam muitos acertos para serem feitos por Ayrton e pela Lotus em poucas horas até a corrida. Na manhã do domingo, após um satisfatório treino livre, Ayrton Senna deixou o cockpit com um sorriso maroto e confidenciou aos mais próximos:
“Vamos dar trabalho!”
E realmente deu. Curiosamente, a Lotus respondia muito bem às condições da pista quando estava com o tanque cheio.
Na primeira largada, Lauda pulou na frente, mas um acidente acabou provocando interrupção da prova, ao envolver diversos pilotos, como Teo Fabi, Gerhard Berger, De Angelis e até o líder do campeonato, Michele Alboreto.
Quando os carros vinham para completar a primeira volta, a direção de prova apresentou a bandeira vermelha e deu início ao procedimento para uma nova largada. O maior beneficiado era Alboreto, que sequer tinha conseguido sair do lugar. O piloto da Ferrari, assim como Fabi, Berger e De Angelis, pegaram o carro reserva para a relargada.
Com todos reposicionados na estreita reta de Osterreichring, foi dada novamente a largada e foi a partir daí que surgiu um dos grandes personagens da prova: Ayrton Senna. O brasileiro começou a colocar em prática o seu vasto repertório de ultrapassagens, pulando para décimo ainda na primeira volta. Quem também foi bem na relargada foi Prost, que recuperou a liderança, com Rosberg em segundo e Lauda em terceiro.
Na quarta volta, Rosberg abandonou com problemas no motor Honda da Williams. Senna foi ultrapassando vários adversários até entrar na zona dos pontos, como Patrick Tambay, Alboreto e Fabi. Ao final da décima volta, Senna já era o sexto colocado.
Rendendo muito bem, a Lotus do brasileiro agora estava atrás de Mansell, um rival bem difícil de ser superado. O piloto da Williams conseguiu ultrapassar Elio De Angelis e Ayrton também aproveitou para colar na traseira do seu companheiro de Lotus na volta 19 e efetuar a ultrapassagem três voltas depois.
Enquanto Senna buscava encostar novamente em Mansell, Prost tentava se desvencilhar de Niki Lauda. O austríaco diminuiu muito a vantagem do francês. Na volta 26, o motor BMW da Brabham deixou Piquet lento na pista e Ayrton Senna subiu para a quarta posição.
Lauda assumiu a ponta com a parada de Prost nos boxes. O piloto da casa ainda voltou na segunda posição, já que Mansell encostou o carro na grama por causa de problemas de motor. Com isso, Senna já entrava na zona do pódio e era o terceiro.
Tudo caminhava para uma vitória tranquila de Lauda. Até que, na volta 39, o turbo da McLaren falhou e deixou a torcida austríaca frustrada em Zeltweg. Prost e Senna conseguiram levar o carro até o final e conquistaram o primeiro e segundo lugares, respectivamente. Foi a segunda dobradinha Prost-Senna na Fórmula 1 – a primeira foi a histórica corrida de Mônaco em 1984.
Quem não gostou do trabalho de Ayrton Senna foi Michele Alboreto (Ferrari), que disputava ponto a ponto o título com o vencedor da prova, Alain Prost (McLaren). Alboreto pressionou Ayrton no final da prova, mas não conseguiu tirar o segundo lugar do brasileiro, que conquistou seu quinto pódio na carreira e o segundo pela Lotus.
No final da corrida, o inconformado piloto italiano disparou: “Esse brasileiro corre com a faca nos dentes como se ainda estivesse na Fórmula 3”.
Gp da Áustria
1º
A. Prost
2º
N. Mansell
3º
N. Lauda
4º
K. Rosberg
5º
N. Piquet
6º
T. Fabi
7º
E. de Angelis
8º
P. Tambay
9º
M. Alboreto
10º
R. Patrese
11º
M. Surer
12º
S. Johansson
13º
D. Warwick
14º
Ayrton Senna
15º
J. Laffite
16º
T. Boutsen
17º
G. Berger
18º
A. de Cesaris
19º
P. Ghinzani
20º
E. Cheever
21º
P. Alliot
22º
S. Bellof
23º
Achenson
24º
H. Rothengatter
25º
J. Palmer
26º
P. Martini
51
voltas
26
carros
15
abandonos
1’29”241
volta mais rápida
1º
tempo Nublado
Pódio
1º
A. Prost
2º
Ayrton Senna
3º
M. Alboreto
2º
Posição de final
6º
posição no campeonato após a prova
14º
posição de largada
6
pontos somados no campeonato
1’31”666
melhor volta
Foi um grande alívio terminar a corrida na zona dos pontos. Honestamente, eu me perguntava em que volta o carro, que não estava muito estável, iria quebrar.