Grande Prêmio da Bélgica – 1990

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O desafiante circuito de Spa-Francorchamps deixava Ayrton Senna bastante à vontade. Tinha conquistado ali três vitórias até então, sendo as duas últimas conquistas (1988 e 1990) com direto a pole position e sendo de ponta a ponta (1988 e 1989).

“Claro que uma vitória será novidade. Eu ainda não ganhei aqui esse ano”

Líder do campeonato com 54 pontos, Ayrton Senna tinha uma vantagem de 10 pontos sobre Alain Prost, vice-líder com a Ferrari.

“O campeonato está aberto e acho que a Ferrari leva alguma vantagem em circuitos de baixa velocidade. A McLaren é um pouco melhor nos circuitos de alta velocidade. Só que isso é na teoria e pode se modificar daqui para a frente. O importante é que estamos trabalhando duro para que nosso carro também fique competitivo nos circuitos de baixa velocidade como Estoril, Jerez e Adelaide”, disse Senna aos jornalistas.

Nos treinos no circuito de 6.940 metros, Senna mostrou superioridade cravando a sua 48ª pole position da carreira, meio segundo mais rápido que Gerhard Berger, com quem dividiria a primeira fila. Prost abriria a segunda fila ao lado do piloto local Thierry Boutsen.

Ainda no sábado, Senna anunciou a renovação com a McLaren por mais uma temporada, deixando o ambiente ainda mais propício para o foco total nas busca pelo bicampeonato naquela temporada.

A novidade daquele ano para Senna foi só conseguir correr para tentar a vitória na Bélgica após três largadas. Mesmo largando bem em todas, Ayrton viu as duas primeiras serem anuladas por acidentes com pilotos que estavam para trás no grid de largada.

Na primeira, Mansell e Piquet se envolveram em toques antes mesmo da primeira curva. Na segunda largada, tudo parecia caminhar bem, mas quando os pilotos já estavam na segunda volta, a Minardi de Paolo Barilla chocou-se fortemente contra o muro, causando outra bandeira vermelha. Desta vez, Senna foi bastante prejudicado. Em menos de duas voltas ele havia conseguido abrir mais de 3 segundos de vantagem na liderança e teria que mais uma vez segurar a ponta na relargada.

A terceira e última largada foi a mais difícil para o brasileiro. Berger pressionou bastante, mas Ayrton manteve a frente após uma primeira curva apertada no hairpin.

Com seu companheiro de equipe por perto, Senna tinha um escudeiro entre ele e Prost. Mas o francês não queria deixar o brasileiro abrir uma grande diferença e tomou a segunda posição logo após completarem as primeiras dez voltas, aproveitando que o austríaco sofria com o desgaste de pneus.

Na volta 19, Berger parou para efetuar a troca. Enquanto isso, Prost colava na traseira de Ayrton. Boutsen vinha logo atrás, na terceira posição, mas teve que abandonar com a sua Williams por problemas de transmissão no carro.

Parando na mesma volta, Prost bem que tentou uma estratégia diferente para tomar a frente de Senna nos boxes, mas o pit stop da McLaren foi quatro segundos mais rápido que o do francês. Logo na saída, o brasileiro teve que defender a liderança de Alessandro Nannini, que não trocaria seus pneus até o final da prova. O italiano tirou de lado duas vezes, mas Ayrton conseguiu aquecer os pneus rapidamente e manteve a frente na volta 23.

A encrenca nas voltas seguintes ficou para Prost. O francês conseguiu ultrapassar o italiano na volta 27 e não desistiu de ir atrás de Senna.

A partir daí, a corrida não teve muitas mudanças. Senna ultrapassava os retardatários com mais facilidade que Prost. A diferença chegou a subir para 10 segundos, mas no final, querendo chegar com o carro inteiro, Senna tirou um pouco o pé, cruzando a linha de chegada 3s5 na frente do rival.

Com a vitória de ponta a ponta, Ayrton Senna conseguiu seu quarto triunfo no circuito belga e a 25ª vitória na carreira, igualando ao escocês Jim Clark e o austríaco Niki Lauda. Além da marca, Ayrton abria uma boa vantagem no Mundial de Pilotos para Prost. A diferença subiu de 10 para 13 pontos, restando cinco provas para o término do campeonato.

No final, o dia foi realmente brasileiro na Bélgica. Com a vitória de Senna, o quinto lugar de Piquet e o sexto de Maurício Gugelmin, o País colocava três pilotos entre os seis primeiros. Era apenas a terceira vez na história da Fórmula 1 que três pilotos do Brasil pontuavam na mesma prova. A primeira vez havia acontecido em 1973, na Alemanha, com Carlos Pace, Wilson e Emerson Fittipaldi. Já a segunda ocorreu em 1988, na Inglaterra, com os mesmos pilotos de 1990: Senna, Gugelmin e Piquet, em outra vitória de Ayrton.

Além disso, na preliminar da Fórmula 1 em Spa-Francorchamps, Rubens Barrichello havia vencido a corrida da Fórmula Opel, e já começava a aparecer no cenário internacional.

Sobre o fato de ter que largar três vezes, Ayrton comentou após a prova para os jornalistas:

“Uma vez já é mais do que suficiente em termos de tensão. Quando deram bandeira vermelha pela segunda vez, meu deu até vontade de sair do carro e não largar mais”, brincou Ayrton, de maneira humorada.

O GP seguinte estava marcado para Monza, em duas semanas, onde o desafio seria ainda maior: a casa da Ferrari, de seu rival Alain Prost.

Resumo da Corrida

  • 1 Ayrton Senna
  • 2 G. Berger
  • 3 A. Prost
  • 4 T. Boutsen
  • 5 N. Mansell
  • 6 A. Nannini
  • 7 R. Patrese
  • 8 N. Piquet
  • 9 J. Alesi
  • 10 S. Nakajima
  • 11 A. Suzuki
  • 12 I. Capelli
  • 13 S. Modena
  • 14 M. Gugelmin
  • 15 E. Bernard
  • 16 P. Martini
  • 17 E. Pirro
  • 18 D. Warwick
  • 19 A.Caffi
  • 20 A. de Cesaris
  • 21 N. Larini
  • 22 M. Donnelly
  • 23 O. Grouillard
  • 24 D. Brabham
  • 25 P. Barilla
  • 26 M. Alboreto
Voltas44
TempoNublado
Volta mais rápidaA. Prost - 1´55´´087
Podium 1º Ayrton Senna 2º A. Prost 3º G. Berger
Carros26
Abandonos9

Senna na corrida

Posição de largada1
Posição final1
Melhor volta1’55’’132
Pontos somados para o Campeonato9
Posição no Campeonato após a prova1
O que disse após a prova
"O maior problema foi manter o equilíbrio do carro durante a corrida, não esforçando muito os pneus. Tínhamos pensado fazer toda a corrida com os mesmos pneus, mas por muito que tentasse poupá-los, os nossos planos foram inviabilizados pelo ritmo da corrida, que foi muito elevado. De qualquer forma, consegui manter uma boa média durante a corrida, pois não interessava nada ter um pico de "performance" e depois ter que reduzir o ritmo. Fazer uma partida já implica muito "stress", e depois de arrancar bem e ficar no comando, eis que vem a bandeira vermelha. E pelo que sei, parece-me que a primeira parada não se justificava. Inclusive, no "briefing" dos pilotos tínhamos acordado que, se houvesse um acidente, desde que a pista ficasse livre, seria mostrada a bandeira amarela. Por isso fiquei surpreendido ao ser mostrada a bandeira vermelha. Na segunda partida voltei a sair bem e não sucedeu nada de anormal. Decidi então puxar, pois o meu oponente direto estava em quinto, e ganhei uma boa vantagem, por isso fiquei tranquilo quando voltei a ver as bandeiras... Nem queria acreditar! Fomos então para a terceira partida, com pneus que tinham feito mais de dez voltas, o que representa quinze em outras pistas, por isso já sabíamos que íamos ter que parar. A questão era saber quando é que isso seria conveniente, por uma questão estratégica. Fui-me mantendo na frente, com uma vantagem de 2 a 3 segundos, apesar do Ferrari ser mais rápido no início da corrida, e assim que m percebi de que ele ia parar, resolvi entrar na mesma volta. O "boxe" tinha avisado de que talvez o Prost fosse entrar, depois confirmou-o e eu disse logo que também ia parar. A mudança de pneus foi ótima, e estrategicamente muito importante, tendo sido decisiva para a vitória. Entretanto, quando voltei para a pista, quando ia ao longo dos "boxes" verifiquei que dois carros entravam para o gancho. Um deles era o Grouillard, que eu tinha ultrapassado antes, e o outro era verde e só podia ser um Benetton, que vinha procurando passar para o comando. Por isso, saí dos "boxes" que nem um "dragster" dando tudo o que tinha na reta, pois sabia que se o Nannini me passasse, depois iria ser muito difícil ultrapassá-lo. Mas não foi fácil, uma vez que os pneus ainda estavam frios e com pouca pressão, o que não favorecia a velocidade de ponta. A partir do momento em que consegui manter o comando, o carro passou a curvar melhor e procurei verificar onde que estava o Prost e qual era a nossa diferença. Quando percebi qual era, preocupei-me com a recuperação do ritmo ideal para o carro e os pneus, para não comprometer o final da corrida. Entretanto, vi que conseguia ganhar algum tempo ao Prost, mesmo quando a pista estava livre para os dois, e percebi que tinha um carro à altura para enfrentar as últimas voltas. Mas isso sucedeu depois de mudar os pneus, pois o nosso carro desgasta mais os pneus do que os Ferrari, o que compromete o equilíbrio do carro. Mas nessa altura o carro já estava mais leve, os pneus estavam quase novos, a pista tinha muita borracha, o que reduzia o desgaste, por isso dava para fazer o que mais me interessava: aumentar um pouco mais a minha vantagem e ver qual era o ritmo dele, sem me deixar atrasar pelos carros mais lentos que ia encontrando na pista. Tive ainda um problema com os travões. Queria mudar a repartição da travagem da frente para a traseira, mas o sistema não funcionou e tive que começar a travar mais cedo, pois as rodas da frente tinham tendência para bloquear. De qualquer forma, foi muito importante ter conseguido colocar o Nannini entre mim e o Prost, pois assim poupei os pneus, que teria de esforçar para tentar ultrapassá-lo de novo, e não sei se o conseguiria, pois o meu carro não era muito rápido em reta."