O desafiante circuito de Spa-Francorchamps deixava Ayrton Senna bastante à vontade. Tinha conquistado ali três vitórias até então, sendo as duas últimas conquistas com direto a pole position e sendo de ponta a ponta (1988 e 1989).
Líder do campeonato com 54 pontos, Ayrton Senna tinha uma vantagem de 10 pontos sobre Alain Prost, vice-líder com a Ferrari.
“O campeonato está aberto e acho que a Ferrari leva alguma vantagem em circuitos de baixa velocidade. A McLaren é um pouco melhor nos circuitos de alta velocidade. Só que isso é na teoria e pode se modificar daqui para a frente. O importante é que estamos trabalhando duro para que nosso carro também fique competitivo nos circuitos de baixa velocidade como Estoril, Jerez e Adelaide”, disse Senna aos jornalistas.
Nos treinos no circuito de 6.940 metros, Senna mostrou superioridade cravando a sua 48ª pole position da carreira, meio segundo mais rápido que Gerhard Berger, com quem dividiria a primeira fila. Prost abriria a segunda fila ao lado do piloto local Thierry Boutsen.
Ainda no sábado, Senna anunciou a renovação com a McLaren por mais uma temporada, deixando o ambiente ainda mais propício para o foco total nas busca pelo bicampeonato naquela temporada.
A novidade daquele ano para Senna foi só conseguir correr para tentar a vitória na Bélgica após três largadas. Mesmo largando bem em todas, Ayrton viu as duas primeiras serem anuladas por acidentes com pilotos que estavam para trás no grid de largada.
Na primeira, Mansell e Piquet se envolveram em toques antes mesmo da primeira curva. Na segunda largada, tudo parecia caminhar bem, mas quando os pilotos já estavam na segunda volta, a Minardi de Paolo Barilla chocou-se fortemente contra o muro, causando outra bandeira vermelha. Desta vez, Senna foi bastante prejudicado. Em menos de duas voltas ele havia conseguido abrir mais de 3 segundos de vantagem na liderança e teria que mais uma vez segurar a ponta na relargada.
A terceira e última largada foi a mais difícil para o brasileiro. Berger pressionou bastante, mas Ayrton manteve a frente após uma primeira curva apertada no hairpin.
Com seu companheiro de equipe por perto, Senna tinha um escudeiro entre ele e Prost. Mas o francês não queria deixar o brasileiro abrir uma grande diferença e tomou a segunda posição logo após completarem as primeiras dez voltas, aproveitando que o austríaco sofria com o desgaste de pneus.
Na volta 19, Berger parou para efetuar a troca. Enquanto isso, Prost colava na traseira de Ayrton. Boutsen vinha logo atrás, na terceira posição, mas teve que abandonar com a sua Williams por problemas de transmissão no carro.
Parando na mesma volta, Prost bem que tentou uma estratégia diferente para tomar a frente de Senna nos boxes, mas o pit stop da McLaren foi quatro segundos mais rápido que o do francês. Logo na saída, o brasileiro teve que defender a liderança de Alessandro Nannini, que não trocaria seus pneus até o final da prova. O italiano tirou de lado duas vezes, mas Ayrton conseguiu aquecer os pneus rapidamente e manteve a frente na volta 23.
A encrenca nas voltas seguintes ficou para Prost. O francês conseguiu ultrapassar o italiano na volta 27 e não desistiu de ir atrás de Senna.
A partir daí, a corrida não teve muitas mudanças. Senna ultrapassava os retardatários com mais facilidade que Prost. A diferença chegou a subir para 10 segundos, mas no final, querendo chegar com o carro inteiro, Senna tirou um pouco o pé, cruzando a linha de chegada 3s5 na frente do rival.
Com a vitória de ponta a ponta, Ayrton Senna conseguiu seu quarto triunfo no circuito belga e a 25ª vitória na carreira, igualando ao escocês Jim Clark e o austríaco Niki Lauda. Além da marca, Ayrton abria uma boa vantagem no Mundial de Pilotos para Prost. A diferença subiu de 10 para 13 pontos, restando cinco provas para o término do campeonato.
No final, o dia foi realmente brasileiro na Bélgica. Com a vitória de Senna, o quinto lugar de Piquet e o sexto de Maurício Gugelmin, o País colocava três pilotos entre os seis primeiros. Era apenas a terceira vez na história da Fórmula 1 que três pilotos do Brasil pontuavam na mesma prova. A primeira vez havia acontecido em 1973, na Alemanha, com Carlos Pace, Wilson e Emerson Fittipaldi. Já a segunda ocorreu em 1988, na Inglaterra, com os mesmos pilotos de 1990: Senna, Gugelmin e Piquet, em outra vitória de Ayrton.
Além disso, na preliminar da Fórmula 1 em Spa-Francorchamps, Rubens Barrichello havia vencido a corrida da Fórmula Opel, e já começava a aparecer no cenário internacional.
Sobre o fato de ter que largar três vezes, Ayrton comentou após a prova para os jornalistas:
“Uma vez já é mais do que suficiente em termos de tensão. Quando deram bandeira vermelha pela segunda vez, meu deu até vontade de sair do carro e não largar mais”, brincou Ayrton, de maneira humorada.
O GP seguinte estava marcado para Monza, em duas semanas, onde o desafio seria ainda maior: a casa da Ferrari, de seu rival Alain Prost.