“Quero contextualizar antes de dizer qualquer coisa. Quando você está trabalhando com alguém como Ayrton, existem muitos momentos de “Uau – o que aconteceu ali?”
Você consegue imaginar isso?
Eu tenho dois pensamentos. O primeiro é a alegria que alguém com esse talento supremo trouxe a todos na equipe. Você sente que quer dar mais do que era necessário, a fim de proporcionar como ele queria – e ele estava sempre indo em sua direção em desempenho. Em outras palavras, minha memória duradoura é que, quando ele estava pilotando para nós, todo mundo na Lotus estava em alta, e isso é uma memória coletiva.
Ele gerou um sentimento em nós que você não poderia fazer nada errado. Mais do que isso, falando como um chefe de equipe, de uma hora para outra os patrocinadores ficaram mais fáceis de conseguir, de repente você podia obter contratos que de outra forma não teríamos chance.
O segundo pensamento é que nós sentimos que, se ele estava do nosso lado, todas as outras equipes tinham um problema: não importava se você era Ron Dennis ou Enzo Ferrari. Você poderia destacar a vitória de Portugal, você poderia destacar Mônaco em 1987, quando ele passou as últimas dez voltas batendo papo no rádio, você pode destacar a sua impressionante pole position em Jerez…
Há muitos pilotos que são capazes de produzir uma performance singular, mas a diferença foi que ele fez isso o tempo todo. Lembro-me de Hockenheim, quando sua suspensão ativa desabou e ele terminou a corrida na terceira posição, apenas com o uso das molas de suporte usadas para as verificações técnicas da FIA.
Em vários casos durante o treino de classificação, ele não precisa ir para a pista outra vez, porque ele já foi o mais rápido que ninguém iria vencê-lo – se fosse Schumacher hoje emdia ele diria ‘eu não vou incomodar mais, irei guardar um outro conjunto de pneus para a corrida’. O que Ayrton disse foi: “não, a volta que acabei de fazer, que é a mais rápida de todas, não foi a melhor que eu posso produzir. Eu vou sentar aqui e pensar sobre isso por um tempo e, em seguida, sair e acelerar o que eu quero posso acelerar.” Eu não acho que ele estava competindo contra si mesmo em momentos como esse, eu acho que ele estava em uma busca contínua da perfeição.
Fonte: Memories of Senna – Christopher Hilton