O GP da Alemanha prometia ter um roteiro semelhante ao da prova realizada na Inglaterra onde, sob chuva, Senna deu espetáculo com a McLaren duas semanas antes. O campeonato tinha Alain Prost na liderança com seis pontos de vantagem para o companheiro (54 a 48). Por isso, Ayrton precisava de uma vitória para poder igualar tudo no GP seguinte.

Na semana anterior da prova, os pilotos realizaram testes em Hockenheim e Ayrton estava bastante satisfeito com o que produziu. Após percorrer quase 900 km em dois dias sob pista seca e molhada, Senna foi 2s64 mais rápido que Thierry Boutsen, segundo nos testes, com a Benetton. Uma vantagem imensa que trouxe ainda mais confiança para o brasileiro nos treinos oficiais.

Pouco antes de entrar no carro para o classificatório, Ayrton Senna viu Steve Nichols, o engenheiro do seu carro, olhando para o céu e brincou:

“Você também vai entrar para o clube do torcicolo?”

A preocupação geral dos pilotos em Hockenheim era com o tempo ameaçador. Durante os treinos, foi possível andar em pista seca em alguns momentos, mas a chuva castigou a pista durante todo o fim de semana. Ayrton Senna conquistou a pole position mais uma vez e, claro, queria uma corrida com chuva. Alain Prost, por outro lado, preferia o Sol.

No treino que definiu as posições do grid, Senna manteve o tempo registrado na sexta-feira, 1min44s596, 0s277 mais rápido que Prost. Foi a sétima pole de Ayrton em nove possíveis na temporada. A segunda fila foi formada por Gerhard Berger e Michele Alboreto. Se em outras corridas a Ferrari não assustou as McLaren, a expectativa é que dessa vez fosse diferente, já que o time italiano possuía motores V12 e que tinha tudo para ser um diferencial nas longas retas de Hockenheim.

No domingo, o caprichoso verão europeu derramou uma garoa fina e intermitente sobre o circuito, mantendo a pista molhada nas 44 voltas do Grande Prêmio. Sem um escoamento moderno, a pista não secou e os pilotos que largaram com pneus de chuva sequer precisaram entrar nos boxes.

Na largada, Senna abriu vantagem logo após a primeira curva. Prost demorou um pouco para sair e foi ultrapassado por Berger e Nannini, caindo para quarto. Nelson Piquet, que largou em quinto, arriscou sair com pneus slicks, mas não conseguiu passar da primeira chicane e acertou a barreira de pneus. Ainda levou a Lotus para os boxes, mas era fim de prova para ele.

Na quinta volta, a vantagem de Senna para Berger já era de 6 segundos. O brasileiro tentava aumentar a diferença enquanto Prost buscava voltar para o segundo lugar. Na volta 11, um susto para Ayrton. O brasileiro foi passar Philippe Alliot, um dos retardatários, mas o adversário escorregou na hora em que era ultrapassado e quase tirou da corrida Senna, que não foi atingido por questão de centímetros.

Após 12 voltas, Prost retomou a segunda posição após ultrapassar Nannini e Berger. A vantagem de Ayrton era de 12 segundos e variou muito pouco até o final das 44 voltas nos 6.797 metros da pista alemã.

Com a vantagem garantida, deu a lógica. Ayrton Senna optou por uma pilotagem segura, desfilando pela bela paisagem de Hockenheim para consagrar a sua primeira vitória em território alemão. E com estilo, de ponta a ponta.

Prost ainda rodou na parte final, mas o segundo lugar não foi prejudicado. Berger completou o pódio e Nannini abandonou a prova, deixando o quarto lugar para a Ferrari de Alboreto.

Essa foi a quinta vitória de Senna no ano e a 11ª dele na carreira. Prost tinha uma vitória a menos que Ayrton na temporada, mas ainda era líder do certame por apenas três pontos (60 a 57).

“Eu acredito que a decisão deste campeonato será pelo número de vitórias que os dois primeiros colocados conseguirem. Mesmo que eu esteja a três pontos atrás do Prost, é bom ter uma vitória a mais do que ele. Acho que no final do campeonato isso vai pesar muito”, disse Senna aos jornalistas após o término da prova, lembrando que o regulamento da época previa que apenas os 11 melhores resultados das 16 provas seriam considerados. E em Suzuka o pensamento do brasileiro se mostraria acertado.