Estava reservada a Ayrton Senna no circuito de Jerez de la Frontera uma de suas mais espetaculares vitórias da Fórmula 1. Contra as Williams de Nigel Mansell e Nelson Piquet e as McLaren de Alain Prost e Keke Rosberg, o piloto brasileiro voou baixo e cravou um tempo que superava os adversários em praticamente um segundo: 1m21s605 (média horária de 186 km/h).

Era a nona pole position, mas nenhuma tão fulminante quanto esta. A marca era ainda mais impressionante se levado em conta que era apenas a segunda prova da segunda temporada de Senna em uma equipe com chances de vitória, caso da Lotus Renault em 1985 e 1986.

Já durante a prova, a briga pela liderança envolveu Ayrton Senna e Nigel Mansell, que se revezaram na primeira posição: ao todo, o brasileiro andou na frente durante 49 voltas. O britânico, por outras 23. Estava claro, após o sinal verde autorizando a largada, que o segredo da vitória seria a melhor combinação entre administrar o forte desgaste dos pneus e o alto consumo de combustível até o final das 72 voltas pelo seletivo traçado de Jerez de la Frontera, na região da Andaluzia, sul da Espanha.

Enquanto Senna liderou as primeiras 39 voltas, Mansell assumiu a ponta na 40. Só que o inglês começou a sofrer forte desgaste dos pneus Goodyear de sua Williams e por isso o time optou por fazer mais um pit stop na volta 63. Com isso, Senna retomou a liderança, mas sabia que o inglês voaria baixo para descontar a diferença de quase 20 segundos nas nove voltas restantes. Afinal, Mansell teria pneus novos enquanto o brasileiro teria que administrar os compostos bem mais desgastados.

Com este roteiro digno de cinema montado nos minutos finais do GP, o mundo da F-1 assistiu a uma das mais dramáticas chegadas da Fórmula 1. Ayrton Senna, levando o carro com extremo cuidado contra a pressão de seu adversário, que chegou a tirar mais de dois segundos de diferença por volta com os pneus em melhores condições.

Na última volta, a diferença é reduzida a cada curva, o que leva a emoção até o instante final. No cotovelo que leva à reta de chegada em Jerez, os carros mergulham juntos e cruzam a linha praticamente lado a lado, com Senna vencendo Mansell pela ínfima diferença de 14 milésimos de segundo. “Haja coração”, eternizou o narrador da TV Globo, Galvão Bueno, ao final da prova.

O show à parte dos dois pilotos foi tamanho que, com exceção de Alain Prost (o terceiro com sua McLaren), todos os outros pilotos que completaram a corrida chegaram pelo menos com uma volta de desvantagem.

Uma forma inesquecível de conquistar a terceira vitória, e também a de menor margem em toda a carreira de Senna – e uma das mais emocionantes chegadas de todos os tempos. A vitória rendeu a liderança do campeonato para o brasileiro naquele momento, com 15 pontos, contra 9 de Piquet, 6 de Mansell e 4 de Prost. “Foi a minha terceira vitória na Fórmula 1, talvez a primeira em que eu tenha realmente lutado para acontecer”, resumiu Senna sobre a conquista em Jerez de la Frontera.