Ayrton Senna teve um grande amigo durante o processo de transição entre Fórmula Ford, Fórmula 3 e Fórmula 1: Maurício Gugelmin, que completa 57 anos neste dia 20.
Em Norwich e Esher, cidades inglesas, os dois dividiram casas – no caso da primeira, alugada, o valor era dividido entre os pilotos, ajudando assim a manter o orçamento dentro do previsto no país conhecido por seu alto custo de vida.
Ayrton competia na Fórmula Ford 2000 e Gugelmin ingressava na F-Ford 1600. Relembre alguns trechos do livro “Uma estrela chamada Senna”, de Lemyr Martins, onde Gugelmin conta as curiosidades do dia a dia com o ídolo brasileiro.
“O Becão (apelido de Senna) era um cara solidário. Muito divertido com os íntimos. Era brincalhão, mas essa faceta do seu caráter ficou escondida, porque a maioria só conheceu o Ayrton Senna piloto. O tipo sério, dedicado e superprofissional que maravilhou a gente com seu talento na pista. O moleque, esse era um perigo. Comer ao lado dele exigia a atenção de uma largada. Se bobeasse, o prato da gente ficava cheio de vinagre ou o copo de leite apimentado. Pasta de dente e creme para barba eram guardados em cofre, para você não ficar com o rosto todo melecado e com a boca espumando”.
“Era meados de 1985, eu corria na Fórmula 3000 e o Ayrton estava na Lotus John Player Special. Em vez do Alfasud caindo aos pedaços, nosso primeiro automóvel na Inglaterra, a gente já desfilava de Escort, depois de Renault, Honda e Mercedes-Benz. E se na nossa primeira casa, em Norwich, as 360 libras de aluguel eram divididas, no casarão de Esher eu não pagava nada. O Becão (apelido de Senna) comprou a propriedade e não me cobrava aluguel. Morei um bom tempo no vácuo”.
“Lembro também que na nossa fase de vacas magras, entre 1981 e 1982, ele na Fórmula 2000 e eu na Fórmula Ford, os prêmios por vitória eram de 100 e 200 libras, mais ou menos 400 e 800 reais neste começo de milênio. Então a gente tirava a barriga da miséria. Fazíamos um banquete no histórico restaurante Doric, o único de Snetterton e onde o Ralph Firman, dono da Van Diemen, levava todos os pilotos brasileiros para acertar os contratos”.
“Na nossa casa a culinária era uma tragédia. O melhor que saía era um macarrão com creme de leite que até hoje não sei como podia ficar tão duro. Só dava para comer na hora, quente, depois virava um tijolo. Comida boa e cheirosa só quando a dona Neyde, mãe do Becão, visitava o filho”, disse Gugelmin, que participou de 74 GPs na F-1 e teve seu grande momento na categoria em 1989, quando subiu no pódio no GP do Brasil.