Segunda vitória de Senna na F1 completa 35 anos

Data:
15 de setembro de 2020

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Tempo de leitura:

4 minutos

Ayrton Senna conquistou, no Grande Prêmio da Bélgica de 1985, sua segunda vitória de sua carreira na Fórmula 1. E ele foi absoluto em todos os aspectos.

O GP em Spa-Francorchamps naquele ano seria disputado em junho. Zolder cedia de vez lugar ao gigante circuito da região das Ardenas. Para agradar a todos, a administração do traçado de Spa fez uma reforma geral na pista, dando ênfase na troca do asfalto, para um mais abrasivo e que melhorasse a aderência dos carros com pneus de chuva.

O problema é que os organizadores marcaram o início das obras para dois meses antes da corrida, quando o prazo ideal seria 12 meses. Para piorar o cenário, tiveram que atrasar as obras devido a nevascas no local, e, com isso, a nova pista Spa só foi entregue dez dias antes do primeiro treino livre, ou seja, sem tempo hábil para a “cura” do asfalto.

Logo no primeiro treino livre, o asfalto extremamente abrasivo gerava uma aderência única, impressionante. Para se ter uma ideia, os carros pulverizaram em mais de dez segundos o recorde de melhor volta em Spa-Francorchamps, em comparação ao GP de 1983 (o de 1984 foi disputado em Zolder).

O treino foi se desenrolando e a pista começou a se desfazer. Com o passar dos carros na pista durante o dia, a situação só foi piorando. Tanto, que durante a noite, um batalhão de operários foi chamado às pressas para tentar fazer remendos no asfalto. Mas os esforços pareciam em vão.

No sábado, quando os carros começaram a andar, a situação mudou radicalmente. A pista, que outrora era super aderente, com os remendos, ficou extremamente escorregadia. Os pilotos tinham que usar duas marchas mais baixas para fazer algumas curvas: caos geral e o GP foi adiado, com nova data marcada para 15 de setembro.

Nestes três meses, a F-1 disputou as corridas já marcadas em seu calendário, e Senna estava embalado por três ótimos resultados seguidos: segundo lugar na Áustria, terceiro na Holanda e terceiro na Itália.

Durante o treino classificatório, mesmo enfrentando problemas com o motor que empurrava a sua Lotus, Senna conseguiu o segundo tempo na classificação, atrás apenas de Alain Prost, da McLaren, que havia virado menos de 0s1 à sua frente.

A confiança para a corrida, adquirida depois de três pódios seguidos na temporada, já apontava que aquele não seria um fim de semana para esquecer.

No domingo, com a pista molhada em alguns trechos, Ayrton Senna largou bem e ultrapassou Prost. Liderou praticamente de ponta a ponta em um dos mais seletivos e traiçoeiros circuitos da Fórmula 1 – Spa-Francorchamps – e completou as 43 voltas sem ser incomodado – a não ser por uma pequena pressão de Nigel Mansell, da Williams, por poucas voltas.

“O carro esteve muito bem, especialmente na chuva. Estou encantado com todo o time pela minha segunda vitória neste ano.”

O brasileiro subiu no lugar mais alto do pódio pela segunda vez em sua carreira e ao lado de Prost e Mansell. Comemorou com grande entusiasmo e emocionou-se muito ao ler a faixa aberta e assinada por corintianos de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo: “Senna, campeão no pé e no coração.”

Confira os melhores momentos da prova com os comentários do próprio Ayrton Senna (legendas embaixo do vídeo):

“Então, temos a largada em Spa, com pista molhada, como em Portugal. Prost estava na pole, eu estava em segundo. Era importante sair bem, na luz verde, para escapar de possíveis acidentes e do spray dos outros carros. Eu consegui passar para primeiro, com o Piquet em segundo. Aí ele rodou ao sair da primeira curva, atrasando um pouco todos os outros, o que me deu uma boa vantagem desde a primeira curva.

Eu estava bem à frente de Prost e Alboreto.  Depois vinham Mansell e Johansson, e as duas Arrows, e aí Rosberg e de Angelis. No alto da subida, a pista já estava ficando bem seca na primeira volta, porque Spa é um circuito bem amplo. Então, nós temos chuva em uma parte, mas pode estar fazendo sol do outro lado. Então, foi difícil decidir quando fazer a troca de pneus. Estávamos todos com pneus de chuva, é claro. Mas após poucas voltas, todos começaram a parar para colocar pneus slick. Neste momento, nós vemos Mansell ultrapassando Prost, pelo segundo lugar, e começando a me pressionar.

Depois, temos Keke indo com força para cima de Mansell, com pneus slick, e Piquet também. Muitas poças de óleo na reta dos boxes. Neste momento, Mansell e eu ainda estamos com pneus de chuva. E os pneus estão se desgastando bastante. Aqui, nós vemos o pit-stop da Ferrari. O carro caindo no chão. Foi muito lento. A roda gira em falso, como podemos ver, pela fumaça nos pneus.

Este é Ghinzani com metade do nariz totalmente destruído, andando com três rodas. Na mesma hora, logo depois do pit-stop, Johansson saiu da pista. Vemos Patrese pegando um atalho. Neste momento, eu estava logo atrás de Mansell, saindo dos boxes. O meu pit-stop foi mais lento do que o dele. Então, era importante alcançá-lo o mais rápido possível, como podemos ver aí. Logo depois do pit-stop, eu tentei passar por fora, pela parte molhada, com pneus slick. Foi um risco que eu decidi correr. Como o motor Honda era muito mais forte naquelas condições, seria difícil ultrapassá-lo na reta. Aqui, eu estou em terceiro lugar, atrás de Boutsen e de Angelis.

Mas, em uma volta, eu voltei ao segundo lugar, com Mansell vindo logo atrás, também, com força. Porque aqueles dois ainda estavam com pneus de chuva. Podemos ver o Elio de Angelis aqui, com pneus de chuva. Aqui, estamos subindo a ladeira, em linha reta. Eu consegui ultrapassar meu companheiro de equipe pela parte molhada da pista. Havia uma faixa seca onde o Elio estava. Mas, no fim da reta, eu pude voltar à faixa seca. E Mansell fez a mesma coisa com ele, algumas curvas depois. Naquele momento, a pressão de Mansell era intensa. Nós dois tínhamos feito o pit-stop, então não precisávamos mais trocar os pneus. Mas as condições estavam muito escorregadias, de um lado da pista.

Esta era a pior parte, e estamos vendo o Mansell sair de traseira. Esta parte da pista ficou molhada durante quase toda a corrida. O Alliot também perdeu o controle ali. Mas este lado, que é o lado oposto, estava quase seco. E Keke forçou muito para cima de Mansell, por quase toda a corrida. Eles brigaram muito. E isso me deu a chance de relaxar um pouco, enquanto eles duelavam. Mas Mansell perdeu o controle no alto do morro e pegou um atalho, como Patrese fez antes.

A esta altura, a pista estava ficando mais seca. E foi um bom final. Foi muito bom para a equipe, especialmente, vencer outra corrida depois de tanto tempo. E foi bom estar no pódio, ainda mais no degrau mais alto, mais uma vez. Aí, nós temos que aproveitar. Não é sempre que estamos nessa situação. Então, você espirra champanhe para todo lado e curte o momento”.

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