Kart
Ayrton Senna descobriu muito cedo a irresistível vocação pela velocidade. Aos quatro anos de idade, ganhou o seu primeiro kart. Foi o seu pai quem o construiu. E o garoto transformou o brinquedo predileto no primeiro instrumento do lado mais sério da sua vida.
Competiu pela primeira vez com apenas 9 anos, numa corrida amistosa nas ruas de Campinas, em São Paulo. Foi também a sua primeira pole position, definida em um sorteio. A sorte já andava ao lado do futuro piloto.
A primeira vitória oficial veio em sua também primeira participação em uma corrida oficial. Foi no Kartódromo de Interlagos, que hoje leva o nome de Kartódromo Ayrton Senna, localizado atrás da antiga reta oposta do autódromo paulistano. A prova foi em julho de 1973, quando Ayrton tinha 13 anos.
Enquanto amadurecia para o automobilismo em competições de kart, Ayrton Senna conquistou inúmeras vitórias e títulos de campeão paulista, brasileiro e sul-americano. A paixão que Ayrton Senna descobriu nesta fase da vida foi o grande segredo para ter sido campeão por onde passou.
Senna teve cinco participações em mundiais de kart. Disputado sempre no mês de setembro, a estreia do brasileiro foi 1978, em Le Mans (França), onde terminou a competição com o sexto lugar. Na sequência, vieram dois vice-campeonatos: Estoril (Portugal) em 1979 e Nivelles (Bélgica) em 1980.
Em Portugal, Ayrton empatou em número em pontos com o holandês Peter Koene, mas ficou atrás do campeão nos critérios de desempate. O brasileiro venceu a terceira das três baterias finais mas, diferentemente dos anos anteriores, o resultado da semifinal era mais importante que a última bateria em caso de empate, por isso Koene ficou com o título. Na Bélgica, mais um holandês acabou tirando o sonho de Senna. O título ficou com Peter de Bruyn.
Após vencer sua última corrida na F-1, na Austrália em 1993, Ayrton foi perguntado sobre quem seria seu maior rival da carreira. A resposta surpreendeu muitas pessoas, já que o brasileiro lembrou do seu grande rival no kartismo: Terry Fullerton.
“Eu teria de voltar a 1978, 1979, 1980… quando estava no kart. Eu tinha um companheiro de equipe… Fullerton, o nome dele era Fullerton. Era muito experiente, e eu gostei muito de correr contra ele. Porque ele era rápido, era consistente, ele era, para mim, um piloto muito completo. E era só corrida, era pura corrida. Não havia política, nem dinheiro envolvido. Tenho uma ótima lembrança daquela época”, disse Senna na entrevista coletiva após a corrida em Adelaide.
Mais experiente no kartismo, Fullerton ficou atrás de Ayrton nos dois vice-campeonatos do brasileiro, porém, já havia conquistado o tão sonhado título mundial em 1973. O britânico nunca chegou a correr de Fórmula 1, mas acreditava que Ayrton tinha um grande potencial para o futuro, na época.
“Senna sempre foi bom em aproximar as pessoas que tinha ao seu redor. Ele não se propunha fazer isso de propósito, mas ele tinha o tipo de carisma, habilidade e velocidade que levaram as pessoas que trabalharam com ele, realmente apoiá-lo”, disse Fullerton, em entrevista para Tony Dodgins, autor do livro “Senna All his races”.
A partir de 1981, Ayrton decidiu que era o momento de entrar nas competições automobilísticas da Europa, mas, mesmo assim, não abandonou seu grande companheiro da infância e adolescência. Disputou o Mundial de kart daquele ano em Parma (Itália), ficando em 4º lugar. Sua última participação foi em 1982, em Kalmar (Suécia), onde foi apenas o 14º. O brasileiro estava com o foco total na Fórmula Ford 2000, onde havia acabado de conquistar o título europeu e britânico. O projeto para 1983 era a Fórmula 3, último degrau para chegar até a Fórmula 1.