A briga pelo campeonato teve seu capítulo final no circuito de Suzuka, no Japão. Ayrton Senna chegou com 60 pontos “válidos” (apenas os 11 melhores resultados contavam): tinha vencido seis vezes na temporada. Prost tinha vencido apenas quatro, mas possuía 76. O francês teve uma temporada mais regular com seis 2º lugares, enquanto Senna tinha abandonado em cinco corridas. Por isso, Senna tinha que descontar 16 pontos nas duas últimas provas. Ele precisava da vitória e ainda torcia por tropeços do companheiro de equipe.
Ayrton fez a sua parte nos treinos. Fez a pole com 1min38seg04, obtendo quase 2 segundos de vantagem para o francês, uma eternidade na Fórmula 1.Na largada, Prost tracionou melhor e fez a primeira curva na frente, com Ayrton em segundo. A diferença entre os dois durante mais de 40 voltas foi praticamente no visual: era uma corrida à parte dos demais, assim como foi durante toda a temporada.
Prost trocou pneus na volta 21. Senna assumiu a liderança por durante três voltas. Após a parada do brasileiro, o francês retomou a ponta.
Na 47a volta, Senna armou o bote na chicane antes da entrada da reta dos boxes, colocando sua McLaren por dentro da curva, mas o francês acabou “fechando” a porta antes mesmo da tomada da primeira perna da chicane. Ambos se tocaram. Alain Prost ficou de fora. Ayrton Senna pediu ajuda dos fiscais de pista para retornar a prova e voltou à pista.
“Aquele era o único lugar onde eu poderia fazer uma ultrapassagem. Alguém que não deveria estar lá, simplesmente fechou a porta e causou o choque”, disse Senna depois da corrida em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Mesmo com a frente de sua McLaren avariada pela fechada recebida, Ayrton insistiu na luta pelo título: teve que ir ao box trocar sua asa dianteira, quebrada no toque. Saiu do pit em segundo lugar, atrás de Alessandro Nanini. Tinha uma desvantagem de mais de cinco segundos para o piloto da Benetton. Faltando três voltas para o final, ele conseguiu a ultrapassagem que o deixaria ainda na batalha pelo campeonato. Senna recebeu a bandeira quadriculada na volta 53 e se emocionou muito no carro: o título seria decidido na última prova.
Os cartolas da Fórmula 1, no entanto, ratificaram a punição ao brasileiro que acabou nem subindo ao pódio.
Segundo o artigo 56 do código disciplinar da F-1 em 1989, caso um carro ficasse parado no meio da pista, os comissários poderiam removê-lo para um local seguro e, se o piloto conseguisse fazer o motor voltar a funcionar (como Senna), o piloto poderia voltar a prova. A irregularidade apontada foi justamente o corte da chicane por Senna – após a batida, os carros de Senna e Prost ficaram posicionados fora do traçado e, como o brasileiro não voltou para a pista no mesmo ponto onde saiu, foi desclassificado. A decisão, claro, gerou bastante polêmica: afinal, para não “cortar a chicane”, o brasileiro teria que vir no sentido contrário do traçado. Além disso, era evidente que não houve vantagem técnica no “corte”, já que Senna perdeu muito tempo com a batida.
Nos dez anos anteriores à temporada de 1989, nenhuma das 26 desclassificações de pilotos ocorridas foi por erro de trajeto ou percurso irregular.
Alain Prost ficou assim com o título da temporada em sua despedida da McLaren. Uma temporada que não precisava terminar ali, mas terminou. Mas em 1990, Senna daria o troco vencendo o campeonato – e de uma maneira que seria, de certa forma, a redenção por sua injusta punição no ano anterior.
Gp do japão
1º
Ayrton Senna
2º
A. Prost
3º
G. Berger
4º
N. Mansell
5º
R. Patrese
6º
A. Nannini
7º
T. Boutsen
8º
P. Alliot
9º
S. Modena
10º
N. Larini
11º
N. Piquet
12º
S. Nakajima
13º
M. Brundle
14º
L. Perez-Sala
15º
A.Caffi
16º
A. de Cesaris
17º
I. Capelli
18º
J. Alesi
19º
P. Barilla
20º
M. Gugelmin
21º
B. Schneider
22º
E. Pirro
23º
O. Grouillard
24º
E. Cheever
25º
D. Warwick
26º
J. Palmer
53
voltas
26
carros
12
abandonos
1’43”506
volta mais rápida
1º
tempo nublado
Pódio
1º
A. Nannini
2º
R. Patrese
3º
T. Boutsen
–
Posição de final (desclassificado)
2º
posição no campeonato após a prova
1º
posição de largada
0
pontos somados no campeonato
1’43”025
melhor volta
O resultado provisório dessa prova não reflete a corrida de verdade nem no espírito esportivo, tampouco no regulamento. Diria que é uma vergonha para o esporte.