Ayrton Senna guardava boas recordações da pista de Donington Park. Foi ali que o piloto testou a Williams em 1983, sua primeira experiência com um carro de Fórmula 1.
Poucos imaginavam que a pista com poucos pontos de ultrapassagem, localizada na pequena cidade de Castle Donington, na Inglaterra, teria naquele 11 de abril um domingo de Páscoa inesquecível para os fãs do esporte. Apesar de Donington ter recebido inúmeras corridas de F-3 Inglesa e de outras categorias, aquela era a primeira (e única vez) que o circuito receberia a F-1.
Senna vinha de um vitória especial no Brasil conquistada duas semanas antes do início da F-1 na Europa. Assim como havia acontecido em Interlagos, a chuva seria uma grande aliada do brasileiro para conseguir equilibrar a disputa com as poderosas Williams.
No sábado, Alain Prost e Damon Hill mostraram que seria bem complicado para Senna vencer em condições normais. O francês fez a pole, com o inglês em segundo. A jovem revelação Michael Schumacher, que havia estreado na categoria em 1991, abria a segunda fila, com Ayrton em quarto lugar.
O domingo amanheceu com chuva, acompanhado de nevoeiro e temperaturas amenas – típico cenário do clima inglês.
A largada e a primeira volta costumam ser o grande momento de emoção em muitas corridas da F-1, mas o GP em Donington Park veria algo histórico. Prost e Hill mantiveram as primeiras colocações. Senna foi bloqueado por Schumacher e Karl Wendlinger aproveitou, passando os dois e, assim, deixando o brasileiro em quinto. Foi aí que começou o show que seria conhecida como “a melhor volta de F-1 de todos os tempos” feita por um piloto: Ayrton arriscou e, buscando um traçado diferente na pista molhada, conseguiu tomar a frente de Schumacher e retomar a quarta posição. A ultrapassagem sobre Wendlinger foi feita quase na sequência, apenas uma curva depois. O brasileiro fez uma tomada completamente por fora, deixando o adversário sem nenhuma reação para defender a posição na freada.
Na saída da curva, Senna já estava colado em Hill e dessa vez fez a manobra por dentro. Prost parecia muito longe para o brasileiro buscar a liderança ainda na primeira volta, mas ele foi à caça do francês, e na curva mais lenta do circuito (hairpin), aproveitou para frear mais tarde e surpreender o seu arquirrival.
Confira a própria análise de Senna para a primeira volta, considerada pelos especialistas como a melhor volta da história da Fórmula 1:
““Chovia muito. Larguei em quarto, mas a primeira volta foi um tiro psicológico na concorrência. Fui espremido pelo Schumacher, tive que colocar duas rodas fora da pista, passei o alemão antes da primeira curva e mergulhei à caça de Damon Hill. Passei o inglês na freada. A próxima vítima era Prost. Esperei as curvas duplas do S e como ele freou antes do normal, abriu uma brecha por onde me meti”.
Quem também teve um início dos sonhos foi Rubens Barrichello. O principal estreante do ano largou em 12° lugar e finalizou a volta inicial na quarta posição.
Mas o show de Ayrton não se limitaria apenas à primeira volta.
As voltas seguintes foram marcadas por um tempo instável no céu. Ayrton começou a voar com os pneus slicks. Prost não teve a mesma sorte e, exatamente quando colocou os pneus para pista seca, voltou a chover no circuito de Donington Park.
“Com 18 voltas, a pista secou e todos pararam para colocar os pneus slick. Resolvi pisar fundo para fugir da Williams, mas fiquei entre a cruz e a espada. Afinal, é arriscado ser rápido com pneus de seco no asfalto úmido. Mas se diminuísse o ritmo os pneus perderiam pressão e temperatura e o carro ficaria sem aderência”, disse Senna.
A tática da McLaren nos pit stops estava sempre um passo à frente da Williams. Ayrton fez quatro pit stops, enquanto Prost entrou sete vezes nos boxes, e viu até seu companheiro Damon Hill roubar-lhe a segunda posição.
Uma das entradas de Ayrton no box ficou marcada por outro momento histórico . O brasileiro entrou voando no pit na volta 57 e, como não havia limite de velocidade dentro do box naquela época, acabou fazendo a melhor volta da prova. Pode parecer estranho, mas o fato é que no circuito de Donington a curva de entrada dos boxes é menor do que a curva que leva à reta principal e só Ayrton descobriu isso. O corte de caminho fez Senna cravar 1min18s029, sendo que a volta mais rápida anterior havia sido feita em 1min20s413.
“Ainda tive problemas nos pit stops. No terceiro, uma roda traseira direita travou e a parada me pareceu uma eternidade. No instante de voltar a colocar pneus de chuva, o rádio não funcionou, não me ouviram, entrei e passei direto pelos boxes, sem efetuar a troca. E, para aumentar o suspense, fui avisado que tinha problemas de consumo. Mas como meu tanque vazou no grid e não houve tempo para reparar, ele ficou selado, o que impossibilitaria reabastecer. Como a gasolina estava no limite mudei o estilo de pilotar: trocava as marchas em rotações mais baixas, aliviava o pé antes das entradas das curvas e freava com menos ímpeto. Ufa! Foi assim que cheguei vitorioso e exausto no final das 76 voltas, uma à frente de Prost”, diz Senna.
Com a vitória, Senna aumentava a vantagem na liderança do campeonato. Ele tinha 26 pontos contra 14 de Prost e liderava o Mundial daquele ano com duas de suas melhores vitórias na F-1: o GP Brasil de 1993 e o GP da Europa de 1993.
Gp da europa
1º
A. Prost
2º
D. Hill
3º
M. Schumacher
4º
Ayrton Senna
5º
K. Wendlinger
6º
M. Andretti
7º
J. Lehto
8º
G. Berger
9º
J. Alesi
10º
R. Patrese
11º
J. Herbert
12º
R. Barrichello
13º
A. Zanardi
14º
D. Warwick
15º
P. Alliot
16º
C. Fittipaldi
17º
E. Comas
18º
U. Katayama
19º
T. Boutsen
20º
F. Barbazza
21º
M. Blundell
22º
M. Brundle
23º
A. Suzuki
24º
M. Alboreto
25º
A. de Cesaris
76
voltas
25
carros
14
abandonos
1’18”029
volta mais rápida
chuvoso
Pódio
1º
Ayrton Senna
2º
D. Hill
3º
A. Prost
1º
posição final
1º
posição no campeonato após a prova
4º
posição de largada
10
pontos somados no campeonato
1’18”029
melhor volta